sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Por Causa do Tubarão, do Camarão, do Peixinho

Pois tava há um tempão pra escrever isso. Antes até da escritura do texto sobre as eleições. Mas vai ver eu não tinha digerido bem a informação. Conto pra ti, Suposto:

Há coisa de mês, mês e pouco, andei por Recife, a trabalho. E no único dia que deu pra pegar uma prainha, presenciei uma das maiores afrontas do homem à natureza. Verdadeira batalha psicológica entre ser humano e animal.

Seguinte: fui tomar banho de mar na praia da Boa Viagem. 30 graus, eu louco por uns mergulhos. Mas não tem como. É água na cintura, e olhe lá. Se passar muito disso, perigo: o tubarão pode pegar. Em Boa Viagem tem aquele fenômeno de ataques de tubarão, que a gente do sul só via no Jornal Hoje e no Fantástico. Fenômeno que não tem nada de fenômeno. É reação mesmo. Os bichos só tão buscando alimento ali, porque uns anos atrás, alguns seres humanos aterraram a área mais ao sul onde eles se procriavam e se alimentavam. Diz que nem gostam muito da nossa carne, mas que, na falta de um peixinho, ou camarãozinho melhor, se bobear, mandam uma coxinha de gente. Mas não é essa a batalha psicológica a que me refiro não.

A batalha eu percebi quando, nada muito divertido no mar, voltei pra areia e reparei que, mesmo sem jacaré e com tubarão. a turma lota a praia. Muita gente que vai se espremendo à medida que a maré sobre. E ficam curtindo um mezzo feira livre, mezzo quermesse. Assim, ó, as frases mais ouvidas na beira da praia de Boa Viagem foram:
— Ó, o espetinho de camarão.
Caldinho de feijão! De camarão! De pimenta!
— Olha a caldeirada!
— Peixe, peixe frito! — e um peixe de uns três palmos de comprimento.
Óia a ostra, ostra!
E, claro:
— Quero!
— Me vê dois?
— Traz mais um?
Um cardápio muito variado pra quem cresceu a milho verde e picolé em Capão da Canoa. E uma turma ávida por um piquenique ou kerb na beira da praia. E eu me espantando com tudo isso. Até que olhei pro mar e imaginei a tubarãozada, toda de tocaia, espreiatando por trás dos recifes. Então espichei o olho ao meu redor e vi aquela gente toda se refestelando no buffet ao ar livre. E saquei. É pura provocação. Recifences e turistas tão dizendo pra turma da barbatana Ah, tão mordidinho, é? Perderam o camarãozinho e vieram me almoçar? Pois morram de fome, que, ó, ó, eu tenho camarãozinho e não te do-ou! Tenho sururu e é só me-eu. É o chamado troco, como diria o Galvão Bueno.

E eu digo que é o chamado desequilíbrio ecológico. E também psicológico, ? Maldade. Ora onde já se viu provocar tubarão. Inda mais quando os danados não têm culpa. Ainda mais², quando o povo não percebe, comendo sentado a tarde inteira, que a batalha pode deixar de ser entre homem e tubarão e virar baleia versus tubarão.

3 comentários:

Lua disse...

Recife eh sem dúvida a cidade que melhor representa o Brasil. Tem tubarão, calorzão, vida cultural intensa, praia e cheiro ruim, não tem periferia. Lá realmente tá todo mundo junto, miséria e riqueza lado a lado, a brasilia Teimosa x a Boa Viagem, Olinda x o Coque!

Pior que deu uma saudade!;-))

katherine funke disse...

Moço, obrigada mais uma vez pela entrevista para a Muito...

Mateus Dagostin Luz disse...

baihn...
tu prefere o milho com manteiga e sal, as polar e as mãe-d´água de Mariluz, então?

que coisa!

e aqui não tem torcida do Náutico, pelo menos não nos últimos três anos...