terça-feira, 22 de julho de 2008

Por Causa do Nego, da Mãezinha e de Tantos Outros

Acho que os motéis foram pegos pelo bafômetro.

Assim: tenho uma lista de coisas pra falar sobre a Lei Seca, Tolerância Zero, seja lá como se chame isso. Mas me ocorreu agora o seguinte: fala-se do prejuízo de bares e restaurantes; da conseqüente perda de arrecadação com impostos; dos lucros dos taxistas; das refrigeranteiras, por que não?

Mas dos motéis ninguém fala.

E, Suposto Leitor, tu sabe, ? Mexeu com os elefantes, mexeu com Cachorro do R, mexeu comigo. Calma que eu já chego lá.

Já parou pra pensar na lógica do mercado moteleiro? Eu penso que é mais ou menos assim: tem os casais-querendo-sair-rotina. Vamos aprontar uma loucurinha hoje, Mãezinha?, o maridão pergunta, ela entende tudo e lá se vão os dois pra um restaurante, um barzinho, tomar uma champanhe, um vinho, qualquer coisa que estimule a Mãezinha e o Nego a fazerem loucurinhas sem pensar. Esses existem, certo? Assim como tem os casais-o-mundo-acaba-amanhã. Final de festa, cerveja, redbull, uísque e tanto mais na cabaça, Eles se encontram, se beijam, se amam, não há amanhã, não dá pra esperar. Toca pro motel, depois pergunto teu nome. E tem aqueles que não são casais, são trios, quartetos, quintetos, não sei como é que começa, mas acho que eles bebem uma coisinha antes, não?

Pois é.

Essa turma toda agora vai de táxi pro motel? De ônibus? A pé? Os motéis disponibilizarão motoristas pros casais e tais? Actho que no. Mas imagina só, pega o táxi e:
— Pra onde, mestre?
— Toca pro Avalon.
— Ah, motelzinho, sim, com esse tempo é bom, ?
— Ô, não tem melhor.
— Pois é, mas parece que vai chover, quando chove, daí é bom ficar em casa...
— Nem me fala...

Tá, Suposto, eu sei que tu vai dizer Ah, mas eles podem beber nos motéis, tu nunca foi num motel? Tem frigobar, serviço de restaurante... Eu sei, Suposto, eu sei. Aí talvez os motéis não se dêem tão mal. O Nego e a Mãezinha de repente podem fazer uma festinha que começa no quarto mesmo, por que não? Só que os preços das bebidas são altos se comparados com bares e tal. Daí, talvez vendendo a champanhe pro Nego e pra Mãezinha, os motéis consigam compensar a ausência dos casais-o-mundo-acaba-amanhã. Que esses aí sempre vão ficar no bafômetro. Mas é bom o Nego e Mãezinha depois dormirem bem, mas bem mesmo, pra não correr o risco de apontar aquele bombom de licor na veia, quando voltarem pra casa.

Ou talvez os motéis tenham que começar a baratear no pernoite e a meter a faca na tarde, não? Sim, porque a turma da escapadinha ao meio-dia, o dia da secretária, aquela coisa toda, isso não tem blitz nem bafômetro que pare. Esse público é cativo e não vai do jantar romântico com champanhe pro motel. Vai depois do buffet com refri diet. Ó, é uma opção pra diminuir as perdas dos motéis.

Sei lá.

Certo mesmo só o clichê que eu mais tenho lido e ouvido: o Brasil está passando por uma profunda mudança cultural. Inclusive no jeito de ir a motel.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Por Causa do Cachorro

Suposto Leitor, estive pensando, onde será que tu vive, Suposto? Pensava isso porque queria muito que tu morasse em Porto Alegre e pudesse assistir a Ulbra TV. Maravilha de canal. Sem dinheiro, sem anunciante, sem estrutura, sem motivo algum eles exibem Os Simpsons e sucessos do cinema mundial, como Vanilla Sky que vai passar no próximo domingo. Como é que eles fazem isso? Pergunta pra eles.

Na verdade o que mais me chamou atenção enquanto via um episódio de dia das bruxas dos Simpsons não foi a programação incompatível. Foi o comercial que passou. Comercial de um carrocinha de cachorro-quente. Sério. E mais, não de uma simples carrocinha, mas do Cachorro do R. Cachorro do R, Cachorro do R... fiquei matutando e aí, Suposto, se tu me lê daqui de Porto Alegre, tu vai chegar rapidinho à mesma conclusão que eu: Cachorro do R, Cachorro do Ro, Cachorro do Rosário!, mas que malandros, o trailer do Cachorro do R querendo ir a reboque no sucesso do mais famoso fastfood portoalegrense, que começou com uma carrocinha e hoje é uma rede, com telentrega, loja em shopping, embalagem e tudo. É não tá easy pra nobody, diria o ex-aluno do Fisk.

Mas, epa, espera um pouco.

Repara no texto do comercial do Cachorro do R, que era mais ou menos assim:
Cachorro do R, não se deixe enganar. Só original, não aceite imitações – e isso ilustrado por cenas de um tiozinho de bigode branco esmerilhando nas salsichas, ketchups, milhos e ervilhas, dentro do trailer. Mas o texto seguia: Cachorro do R, desde 1962, na esquina do colégio Rosário – e aí aquela panorâmica do trailer com o tiozinho dê-lhe que dê-lhe nos hot dogs na pracinha em frente ao Rosário, close no certificado "Melhores de POA da Veja" e, em seguida, o close fatal na fachada do colégio, que é pra não deixar dúvidas. Mas eu fiquei na cisma ainda. Eu pensava, Mas, , se esse aí... então aquele outro que eu pedi no trabalho uma vez... e como que ouvindo minhas questões, o Cachorro do R gritou lá da Ulbra TV direto pra mim: Não temos filiais, nem telentrega ­– a mesma coisa escrita em letronas brancas na tela que é pros surdos também só comerem o original. E aí, pra encerrar o comercial com chave de latão, com toda a humildade: Cachorro do R, não temos filiais, nem telentrega.

Putz, Suposto, tu viu esse comercial? Tu já viu uma coisa dessas? Já tinha ouvido falar de advogado de porta de cadeia, mas será que foi um advogado de porta de lancheria que teve a idéia de registrar a marca e passar a perna no simpático tiozinho do bigode branco? Ou terá sido um racha na família Cachorro do Rosário? Digo assim, o herdeiro direto do seu José Cachorro do Rosário, o José Cachorro do Rosário Jr. (ou Salsichinha do Rosário pra turma da rua) naquele clichê de jovem empreendedor, cansado das manias romanticoartesanias do patriarca, teria passado a perna no velho pra modernizar a sua herança? Será? Quis expandir os negócio e porque o pai não queria, deu o golpe do registro de marca.

Pelo sim, pelo não, porque gosto dos mais humildes, porque uso havaianas e não aceito imitações, porque gosto dum trailer de rua, por solidariedade ao tiozinho que não tem telentrega, nem filiais, só vou no Cachorro do R daqui em diante. Nade de pedir no trabalho. E espero que eles estejam falando a verdade.

Ah, mas antes de tudo, acho que vou registrar o Por Causa dos Elefantes. Vai que daqui uns tempos tenho que botar na Ulbra TV um comercial assim: Por Causa dos Es, o legítimo, não leia imitações. Por Causa dos Es, não temos WebTV, nem correspondentes internacionais.