segunda-feira, 25 de junho de 2012

Por Causa do Ser ou Não Ser


Suposto Portuga, assim: não é um Hamlet, mas na próxima quinta, 28 de junho, terei um texto lido no palco do Teatro do Bairro, aqui em Lisboa. É que a escritora e dramaturga (e minha professora) Luísa Costa Gomes organizou uma sessão de encerramento, na qual os atores do grupo do Teatro do Bairro vão fazer uma leitura dramática de 4 peças curtas. Além do meu texto (Figura Horripilante dos Meus Pesadelos), também serão lidas as peças dos colegas Daniel Moutinho, Pedro Santo e Tânia Raposo. Pues bem, fica aí o convite. Passa lá que é à borla, ou, como diz o outro: entrada franca.
Quinta, 28/6, no Teatro do Bairro (Rua LuzSoriano, 63)

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Por Causa de Sovaco


Tem uma coisa que eu acho que ninguém comentou ainda e que foi minha namorada – estranho – quem me alertou:
‒ Já reparou nesse desodarante da Dove: o novo Dove 48 horas de proteção?
Pois ela me fez essa pergunta e eu automaticamente dei uma discreta cafungada pra inspecionar meu sovaco (delícia de palavra) e aí, não sendo uma indireta, parei pra pensar: pois é, Novo Dove 48 horas. Quarenta e oito horas, isso dá o quê, dois dias inteiros? Suposto, rapaz, como diria um filósofo cujo nome me foge agora: venhamos e convenhamos. A não ser que estejamos numa ilha deserta, atravessando o Saara a pé, presos entre escombros ou numa mina, ou participando de uma prova de resistência do BBB, ou correndo atrás do trio elétrico na Bahia, a não ser que seja assim, em geral, levamos um tanto menos que 48 horas pra nos proporcionarmos aquele momento ideal pra aplicação do desodorante, momento também conhecido como banho, não é mesmo? Pelo menos eu sou assim.
Mas como eu não sou o mundo, depois de dar mais uma conferidinha na evaporação das minhas axilas, pus-me a pensar: por que ou para quem a digníssima Dove trouxe esta peculiar inovação no mundo dos antitranspirantes? Não demorei muito a lembrar dos franceses e a sua fama de preferirem umas poucas gotas de parfum a uns tantos pingos do chuveiro. Mas não, além de orgulhosos da sua indústria perfumística, não trocariam, os elegantes franceses, uma fina colônia, uma nobre fragrância, por um sprayzasso na sovaqueira. Não, não é por causa disso que novo o Dove promete não te dar asas por dois dias seguidos. O mistério prossegue, portanto.
Buenas, talvez seja essa cosa muy importante pra nós cidadãos contemporâneos: o clichê. Digo, a sustentabilidade. Assim, não é novidade pra ninguém que a água é um bem escasso, que um dia vai acabar. Pois a marca de produtos de higiene e beleza investiu anos de pesquisa e tecnologia pra permitir ao homem do século 21 que consuma metade da água a partir de agora. Será? Não. Senão a propaganda não seria apenas Novo Dove Man Care, 48 horas de proteção. Apelaria ao nosso instinto de sobrevivência: Novo Homem Man Care, 48 horas: duas vezes menos banho, duas vezes mais água para o planeta.  Eu acho que seria assim.
Entonces, pelo amor de deus, por que um desodorante que protege por 48 horas, se eu não passo 24 horas sem fazer a manutenção da área protegida? Nem o Jack Bauer, no auge da pressão, teria motivo pra precisar disso tudo. Diga lá, Suposto. Sequer é um Dove Kids, pro moleque entrar no banheiro, ligar o chuveiro, ficar do lado de fora do box e ficar rindo, rá, com esse desodorante, matar banho ficou uma barbada. Não, até porque criança não tem cc. Ou tem? Andam tão avançados.
Olha, vai ver é o novo passo da Dove naquela sua campanha pela beleza natural, agora para os homens. Uma beleza natural, tão natural quanto um homem das cavernas ou um homem perdido na floresta durante dois dias. Com aquele cascão natural, com o cabelo endurecendo ao natural com o sebo, com flunfa (nunca achei que fosse usar essa palavra num texto) se formando naturalmente no umbigo, com um chulé de dois dias fazendo o sujeito flutuar naturalmente enquanto olha suas unhas com dois dias de natureza se acumulando embaixo delas. Uma beleza natural?
Não sei. Confesso que não sei. E que é melhor não ficar me preocupando com essas coisas. Que ficar nervoso dá um suador, e o meu desodorante é démodê, daqueles que duravam só umas doze horas.