sábado, 18 de dezembro de 2010

Por Causa Dessa Pressa Toda


Num mesmo final de semana, há quinze dias, rolaram duas estreias nos cinemas, aqui em Porto Alegre: O garoto de Liverpool e A rede social. Eu e a Jajá acabamos indo assistir aos dois, um no sábado, outro no domingo.
O que foi bom.
Não só pelos filmes.
Mas também pela comparação que as 24 horas entre um filme e outro permitiram fazer. Não, Suposto, não vou comparar roteiros, atuações, direções. Tô falando é do simbolismo de esses dois filmes estrearem no mesmo momento.
Olha só:
Tem uma semelhança muito clara entre O garoto de Liverpool e A rede social, que é o fato de serem baseados na história dos primeiros passos, dos momentos pré-fama, de dois nomes ilustres, certo? De um lado, John Lennon, do outro, o Mark Zuckerberg.
E essa semelhança é que faz saltar aos olhos um troço bem típico dos nossos tempos. Quer saber? Tá com pressa? Calma, é bem disso que eu tô falando. Dessa nossa pressa.
Segura a ansiedade e acompanha: sábado, quando assisti a juventude do Lennon, estava sentado diante de uma história que levou uns cinqüenta anos pra chegar ao cinema. E, vem cá, a história da juventude do John Lennon, a formação de um dos maiores nomes da música de todos os tempos, não é pouca coisa. E ainda se trata de um enredo conflituoso, cheio de traumas, lances fantásticos, conflitos fortes. E isso, minha gente, levou décadas pra virar filme.
Aí, no domingo, quando estou saindo da sala onde vi A rede social, parei pra pensar, Peraí, mas esse sujeito é HOJE – e não quando a história se passou – mais novo que eu. E, não, não, Suposto, não é crise dos 30, nem inveja de quem faz um bilhão de dólares aos 25 anos. É o seguinte: quem é Mark Zuckerberg? Sim, o criador do Facebook, eu sei. Mas será que é isso que ele vai ser daqui 50 anos, ou ele pode ser mais? Ou ser esquecido? Está pronta a história do cara, já acabou, já vamos biografá-lo?
É disso que tô falando, isso que ver os dois filmes no mesmo final de semana me botou a pensar. Na ansiedade geral dos nossos tempos, na instantaneidade de tudo, e na tal da efemeridade de qualquer coisa hoje em dia. O Zuckerberg passou a ser um cara da história ontem (se pensarmos em termos de História, talvez ontem seja muito tempo até), há coisa de cinco anos ou menos, com a explosão do Facebook. E assim como ele, cada vez mais, se vê biografias das celebridades do momento. E não estou dizendo que a história do cara não seja interessante, que não deva ser feita. Só estou pensando no significado de fazer ela agora. Demonstra nossa incapacidade geral de fazer as coisas durarem nos tempos de hoje. Tudo é moda, tudo é onda, tudo é trend, tudo é passageiro. Deixar de fazer o filme do Facebook agora, talvez significasse deixar de fazer esse filme para sempre. Porque daqui a seis meses um outro jovem pode estar fazendo o novo bilhão da internet, com uma ideia que a gente não imagina o que seja, e tirando o Zuckerberg dos holofotes e capas da Time. Porque o Zuckerberg de hoje é o criador do Orkut de um tempo atrás, do Napster, de um pouco antes, é o Bill Gates, o Steave Jobs. Eles parecem vir ao mundo na mesma velocidade dos chineses. E podem deixar de ser os caras com a mesma rapidez.
E isso acontece em tudo. É a nova banda do momento. O novo filme do momento. O novo aplicativo do momento. O novo do momento. E a gente corre pra ter, pra baixar, pra fazer o filme e a biografia logo, porque vivemos em um planeta que virou uma imensa Casas Bahia: só hoje. Amanhã já era.
Muita coisa surge. Nenhuma fica.
O Facebook passa.
O Zucekrberg, idem.
O Google, vai saber.
As modas, todas.
Graças a deus, John Lennon é de outro tempo.
Levou 50 anos pra mostrar a juventude no cinema.
Mas ficou na história.
Está nela.
E não vai sair.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Por Causa do Livro Novo

Alô, Suposto Leitor. Voltei.
Pra convidar pro lançamento do meu livro novo, o Quero ser Reginaldo Pujol Filho. São 10 contos, cada um uma homanegam, uma brincadeira, uma livre-inspiração com um escritor referencial pra mim.

Pois bem, o lançamento será na quarta, 15/12, às 19h30 no Café Cinema do Instituto NT de Cinema (Marquês do Pombal, 1111 - Porto Alegre /RS), como não deixa mentir o convite aqui embaixo:

Bueno, e pra entender um pouquito mais como se dá esse livro novo, vai aqui uma pequena amostra. Um trechitio do conto Quero ser Miguel de Cervantes, que abre o livro. Lá vai:


QUERO SER MIGUEL DE CERVANTES (TRECHO)

E diz que existe aquela história do homem que queria ser Miguel de Cervantes. Vivia em algum canto deste Brasil que não posso precisar, não é sabido exatamente quando nasceu, mas contam
que se chamava Maiquel, Mayque, Maicon ou algo parecido e, portanto, não Miguel de Cervantes.

Sabe-se lá o que leva um homem do nosso tempo a querer ser um alguém, mesmo que um grande alguém, do chamado outrora. E, repare, não estamos falando de uma pessoa que se dizia Cervantes como tantos já se disseram Napoleões, Carlotas Joaquinas e outras personalidades de tempos passados. O homem que queria ser Miguel de Cervantes, se a frase não foi clara o suficiente, não se dizia, desejava ser Miguel de Cervantes.

Pois contam que, na falta de uma certidão de nascimento ou de uma carteira de identidade que lhe permitisse realizar esse desejo, certa vez, o sujeito, cabeça raspada imitando uma calva, bigodaços desenhados com régua e estilete, barba pontiaguda ampliando e triangulando o fim do rosto e vestindo bailarinas calças e uma bufante camisa, teria adentrado um cartório de Porto Alegre ouum juizado de Novo Hamburgo e, mal os presentes estranharam aquela figura, tiveram que dobrar seus espantos, pois que a figura bandeirava folhas ao ar e dizia Con quien hablo para cambiar mi nombre? Os dobrados espantos ainda se multiplicariam mais para escrivões, atendentes, funcionários que viram o protocolo de seus olhares ser quebrado pela turma que chegava em companhia do homem que queria ser Miguel de Cervantes: parece que era um mendigo, uma mulher da vida, o guardador de carros da frente do estabelecimento e um homem-estátua que se exibia em uma esquina próxima dali. (Continua)

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Então é isso. Está o senhor Suposto Leitor e todo mundo muito convidado para aparecer no lançamento. E também para conferir novidades e trechos do livro no @Quero_Ser.

Té mais.