segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Por Causa do Escritor Finlandês em Frankfurt



Rapidinho como quem rouba: Suposto Leitor, tu que é um carinha dedicado à leitura, suponho, já viu o discurso do Rufatto na abertura da Feira do Livro de Frankfurt desse ano? Melhor que ver, leu? Bom, tá aqui. E sabe que, no ultimo dia, o Paulo Lins falou que não é a lista de 70 autores enviados pelos Brasil que é racista, é o próprio Brasil que é racista? Declarações fortes por todos os lados. Fora do protocolo. Mas não é disso que eu quero falar. É do futuro.

Da Finlândia.

Sim, nesse momento (a Feira acabou ontem) tenho a impressão, o cutuque, de que um escritor finlandês sofre. Arrepia-se. Perde o sono. Não consegue escrever.

A Finlândia é o próximo país homenageado na maior feira do setor editorial do planeta. Vai mandar escritores, montar estande, fazer negócios e um discurso de abertura. Hemmetti, mitä aion sanoa tämän jälkeen vitun Rufatto puhe?*, está se perguntando o famoso escritor finlandês (se o Google Translator não me derrubou) nesse exato momento, pensando, na sua arrogância, que ele pode ser o eleito (ou condenado) a falar na abertura do evento e que, mais do que isso, não dá pra passar em branco, já não dá mais pra dizer Obrigado, É um honra, Vamos espalhar o finlandês pelo mundo, É uma grande oportunidade, Escrever em finlandês é um ato de resistência, Estamos dissolvendo fronteiras. Não, o escritor finlandês procura uma ferida pra tocar. Cutuca, cutuca e não dói. Ele quer que um escritor finlandês mais velho, que lutou contra a falta de problemas do passado, ele quer que esse histórico escritor brade ao fim do discurso retumbante:
- Se não tem problemas pra você, vá embora.

E eu me compadeço do pobre escritor finlandês e fico pensado no que ele dirá. Quem sabe, Suposto e escritor finlandês, a coisa possa ir por levantar uma bandeira nacionalista, A Nokia é nossa? Ou, então, pedir uma melhor, mais solidária e equânime distribuição de sol? Como assim, dias inteiros de sol e dias inteiros sem o sol? Como fazer uma literatura ambígua, densa, num clima tão maniqueísta? Ou exigir mais e melhores traumas de infância: num país seguro, com uma das melhores educações do mundo, renda percapta idem, transporte idem, saúde idem, um país que pode ser explicado com idem, onde está a angústia, onde está o medo, onde reside a dúvida pro escritor finlandês dialogar com o mundo? Ou mais melanina? É isso.

Taí, acho que taí, o escritor finlandês pode exigir mais melanina pro povo, como é que o finlandês pode se integrar na comunidade global, desbravar o sul, os trópicos, uma prainha na Polônia que seja, tendo que lembrar toda hora de reaplicar o bloqueador FPS 158? E, depois, quanto maior o FPS, mais melequenta é a coisa, não espalha direito nas costas, fica aquela marca ridícula, e a gente sempre se esquece de passar nos pés e na nuca e é impossível dormir, botar o sapato ou desbravar o mundo com o pé e a nunca ardendo. Claro que é. Taí. Acho que o escritor finlandês já tem um discurso. Já pode meter o dedo na ferida.

Só que o sistema de saúde lá é bom, e essa ferida já sara.

*God dammit, what i'm gonna say after this fucking Rufatto's speech? [nota: em inglês, porque o escritor finlandês não imagina como seja o português]

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