Como diria um amigo meu paulista, então: sexta da semana passada tava na Zero Hora, com direito a diagramação especial, fonte diferente e tudo, toda a empolgação com o anúncio do metrô, ucho, ucho, ucho, o metrô é gaúcho, é isso aí.
Pues na hora eu senti aquele cheirinho de Habibs. Ou seria de McDonalds. Pizza Hut?
Não, Suposto, eu não tava lendo a ZH numa praça de alimentação.
Falo é do efeito Habibs (ou McDonalds, ou Pizza Hut). Uma coisa assim por-do-sol do Guaíba, tem que ser de Porto Alegre pra saber o que é.
O quê, Suposto, tu é de Porto Alegre e não sabe do que se trata? Capaz?
Explicar-te-ei.
Tava lá no jornal aquela cronologia do sonho, mil oitocentos e guaraná de rolha, Londres, primeiro metrô do mundo; mil novecentos e preto e branco, Buenos Aires, primeiro metrô da América do Sul; mil novecentos e tevê a cores (mas de tubo), São Paulo, primeiro metrô do Brasil; e, tchararam, dois mil e dezessete, dois mil e futuro, o quê, o quê, ele, o metrô gaúcho.
É isso, essa sensação de Porto Alegre desembarcando no aeroporto do mundo, sendo recebida com Welcome, miss Porto Alegre, essa vibração, é disso que eu estou falando e sei bem direitinho no que vai dar. Lembram quando inaugurou o primeiro McDonalds gaúcho? Ou a primeira Pizza Hut, o Habibs? Eu lembro, e lembro também de fila. Podiam convidar o sujeito pra ir jantar no Il Gattopardo com tudo pago, que o vivente dizia que não, eu quero ir esperar vinte minutos numa fila pra comer dois hambúrgers-alface-queijo-molhoespecial-cebola-e-picles-num-pão-com-gergelim. Melhor: te dou passagem pra ir jantar hoje em Paris. Ná! Sem graça, eu quero pegar meu Audi A3 e curtir um engarrafamento pra pegar umas esfihas e uma Kaiser no Habibs. É sério, tinha engarrafamento ao redor da loja em Porto Alegre nos meses seguintes à inauguração do fastfood árabe.
Temos essa característica, fazer o quê? Não sei se é gratidão, ou a pra lá de famosa hospitalidade gaúcha, mas esses troços que são populares, do povo, no mundo todo chegam aqui e viram o má-xi-mo.
Vai ser diferente com o metrô?
Já tô até imaginando. Tudo vai começar com o primeiro trajeto do revolucionário meio de transporte. Um passeio inaugural, com o presidente de 2017 (Dilma? Lula? Sarney? Collor? Tiririca?) acompanhado do governador, prefeito, autoridades. Jornal do Almoço transmitido ao vivo de um vagão, depois começa o Sala de Redação lá dentro, uma festa só.
E no dia seguinte? Essa revolução que veio para desafogar o trânsito, tirar veículos das ruas, agilizar a vida dos portoalegrenses, vai mostrar a que veio. No dia da abertura ao público, o primeiro impacto do metrô em nossas vidas vai ser sentido: engarrafamento de 17 quilômetros ao redor da estação. Filas cuspindo gente. Faltam passagens nas bilheterias. Um sucesso. Ninguém quer perder esse momento. Melhor só se tivesse um drive-thru do Habibs pra pegar umas esfihas e comer no metrô. Ir pro trabalho? Que nada. Todo mundo de chapinha, camisa Lacoste e o melhor sorriso como se estivesse de férias em Londres, curtindo as maravilhas de passear de metrô. Mas com um plus a mais: correndo o risco de aparecer na Fernanda Zaffari, no Lerina e, se bobear, no Kazuka. Vai ser uma festa.
Vejo pessoas trocando seu apês no Moinhos de Vento por um JK na Assis Brasil (e botando mais alguns mil reais pra conseguir fechar o negócio) pra curtir o glamour de morar perto da estação do metrô. Vejo mais: Padre Chagas? Cidade Baixa? Que nada, camarada, todo mundo fazendo happyhour no Xis Plutão. Ou num trailler de cachorro quente (quer dizer, hotdog), num New York style, bem na saída da estação Cairu.
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