Acabou de chegar aqui mais um e-mail enviado de um iPad. Agora há pouco, outro me avisava que “este e-mail foi enviado com o meu Blackberry”, e atenção, “da Vivo”. Opa, Blackberry e da Vivo. Que interessante.
Olha, já faz um tempo que essas assinaturas me encucam (encucam é uma palavra que deve encucar quem lê), mas, bem, já faz um tempo que a vital informação de que eu recebi um e-mail enviado do iPhone de alguém em faz perguntar: e daí, por que, quem se importa?
Vamos lá.
Primeiro é que várias vezes eu pensei assim: já imaginou se essa mania viesse do tempo da carta? Essa missiva foi redigida e enviada através da minha escrivaninha feita sob medida pelo arquiteto Alexandre Madeira; da minha caneta Bic; das folhas de papel Chamequinho; e, por fim, mas não menos importante, dos Correios. Ou então se as mesmas empresas que sempre vêm nos rodapés dos e-mails resolvessem também participar das ligações. Terminava a ligação, mas a gente só conseguiria desligar depois de ouvir “está ligação foi feita de um Samsung da Claro”.
Olha, acho na verdade que seria muito bacana se isso acontecesse, porque daí ia ser mais um jeito dos donos desses equipamentos ganharem descontos e bônus das empresas que utilizam esse espaço publicitário. Porque eu imagino que seja assim, né, cada vez que tu me avisa que teu iPhone – e não tu – me enviou um e-mail, deve ganhar pontos pra um novo aparelho ou uma senha vip pra fila do lançamento do próximo i-Guma-coisa.
Se não for isso, qual o sentido de ter essa frasezita ao fim de cada mensagem? Claro, o Suposto Leitor vai comentar que muita gente nem deve reparar que manda e-mail com essa frase, o dia-a-dia é agitado, corrido, não dá tempo de se ligar nessas coisas.
Pois é, Suposto, mas não ter tempo de reparar nessa frase é complicado, significa que tu nem vê direito o que manda? Uma dica, então: hackers, que tal mexer nessas frases? No final do e-mail das pessoas começar a aparecer “Eu faço xixi na cama”, “Gosto de usar as calcinhas da minha mulher quando ela não tá” ou “Tudo o que você leu aí em cima é mentira, esqueça”? Que tal?
Mas os que reparam e os que não reparam nessa frase, e vocês, empresas que botam essa frase, o que importa se o e-mail foi mandado de um telefone ou de um computador? O que significa Este e-mail blábláblá...? Quer dizer que o enviante, consumidor da empresa X, pessoa moderna e atenta ao que há de mais avançado, típico cidadão multitarefa que não tem tempo a perder, não perdeu tempo e respondeu enquanto dirigia o e-mail que perguntava “Churras hoje”?
Ou quer dizer que o remetente, portador do aparelho tal, alguém sempre conectado com seus amigos, que não pode descuidar um só segundo das suas relações sociais, não descuidou do amigo e respondeu rsrsrsrsrsrsrsrs com toda agilidade que é preciso pra checar e-mails enquanto o filho conta como foi na escola?
Ou quer dizer assim: meu amigo, este e-mail foi enviado do meu celular, que tá aqui comigo, no meio dessa reunião, que tá um saco e eu não tava a fim de esperar ela terminar pra responder. Será isso?
Seja lá qual for a hipótese, sempre que receber essas mensagem, vou ficar preocupado com meus amigos. Ih, será que ele vai bater o carro? Ou traumatizar o filho? Ou perder o emprego? Ou bater o filho, perdendo o carro, traumatizando o emprego, porque na verdade ele deixou de fazer tudo isso só pra responder o meu e-mail?
Ixi, espero que, se tu estiver lendo isso no iPad, que seja, pelo menos, em casa.
Esse post foi enviado do meu Pentium IV.
Um comentário:
Reginaldo, que do caralho teus escritos! Sou a Elena, te lembra? A ex-Boni! Parabéns por tudo, curti demais, e que massa que tu já lancou livros e tudo más. Ta em Portugal ou entendi poucas bulhufas? Abraco!
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