Ê, Suposto, sabe que desde que eu vim pra Portugal, vinha querendo descobrir e escrever sobre autores portugueses? Mas daí, desde as leituras da faculdade até lançamentos do Gonçalo M. Tavares e outras coisas que pintaram no caminho, tudo parecia me impedir de cumprir essa ideia. E as coisas continuam mais ou menos assim. Entonces mandei o idealismo longe e vim aqui falar de um livro de um português que acabei de ler. Não descobri o autor agora, conheço ele desde 2006 e já gostava muito. É o Mário de Carvalho, autor do sensacional Era bom que trocássemos umas ideias sobre assunto – se eu fosse tu, Suposto, ia ler esse livro agora.
Mas já que tu não foi e continuou aqui, deixa eu falar um pouquinho, coisa rápida, nada de resenha ou aprofundamento sobre Quando o diabo reza. Ganhei de Natal esse romance curto, novelinha, que é o livro mais recente do Mário de Carvalho. Além de ser um objeto lindo (palmas pra editora Tinta da China [que chega em março no Brasil]), é uma interessante leitura. Uma história de golpes que, em alguns momentos, lembra Os trapaceiros do Woody Allen e toda a família de filmes e livros de bandidos de araque. Mas com um molho especial: é construído todo em volta de tipos populares, gente normal, cotidiana, de Lisboa. Assim como os golpistas não são grandes coisas, nada perspicazes ou audazes, usam roupas falsificadas pra se apresentarem bem, a vítima também não tem nenhum glamour, um velhote dono de meia-duzia de farmácias, constantemente assediado pela ganância das filhas de vida mais ou menos. Um mundinho completamente mais ou menos, mas superestimado por todos, que se acham merecedores de melhores e mais nobres destinos. Isso contado com um esforço de linguagem muito interessante especialmente pra leitores brasileiros – e, talvez mais ainda pra brasileiros morando em Portugal. O registro, especialmente das falas dos personagens, busca reproduzir a fala das ruas lisboetas. Dá pra sentir o jeito rápido dos portugas do supermercado ou dos bares falarem a cada “Eu lembro-me, camandro”, “Viram bem? Morderam bem a cara do gajo” ou “Ena, pá, isso é tão difícil como varrer a Feira do Relógio como um pincel de Bioxene” que se espalham pelo texto dando cara aos personagens e também a uma malandragem lusa bastante nova pra mim e engraçada. É claro que, se o gajo quiser, pode ir mais fundo na história e na leitura. Pra além da diversão, do desafio de linguagem, Quando o diabo reza, até pelo título, não deixa de trazer o outro lado da moeda da piada: um mundo triste, feito de individualidade (ou melhor, egoísmo mesmo), onde não há possibilidades de sonhos compartilhados. Todo mundo acompanhado e sempre sozinho. Seja em família, seja no casamento, seja na mesa de bar. Mas, ah, daí eu começo a me contradizer nas minhas intenções nesse texto aqui. E, pra falar disso a sério, tem que virar resenha, citar, comparar e o caramba. E eu só quero recomendar. Quando a Tinta da China chegar ao Brasil, eis um bom livro, Suposto.
Mas já que tu não foi e continuou aqui, deixa eu falar um pouquinho, coisa rápida, nada de resenha ou aprofundamento sobre Quando o diabo reza. Ganhei de Natal esse romance curto, novelinha, que é o livro mais recente do Mário de Carvalho. Além de ser um objeto lindo (palmas pra editora Tinta da China [que chega em março no Brasil]), é uma interessante leitura. Uma história de golpes que, em alguns momentos, lembra Os trapaceiros do Woody Allen e toda a família de filmes e livros de bandidos de araque. Mas com um molho especial: é construído todo em volta de tipos populares, gente normal, cotidiana, de Lisboa. Assim como os golpistas não são grandes coisas, nada perspicazes ou audazes, usam roupas falsificadas pra se apresentarem bem, a vítima também não tem nenhum glamour, um velhote dono de meia-duzia de farmácias, constantemente assediado pela ganância das filhas de vida mais ou menos. Um mundinho completamente mais ou menos, mas superestimado por todos, que se acham merecedores de melhores e mais nobres destinos. Isso contado com um esforço de linguagem muito interessante especialmente pra leitores brasileiros – e, talvez mais ainda pra brasileiros morando em Portugal. O registro, especialmente das falas dos personagens, busca reproduzir a fala das ruas lisboetas. Dá pra sentir o jeito rápido dos portugas do supermercado ou dos bares falarem a cada “Eu lembro-me, camandro”, “Viram bem? Morderam bem a cara do gajo” ou “Ena, pá, isso é tão difícil como varrer a Feira do Relógio como um pincel de Bioxene” que se espalham pelo texto dando cara aos personagens e também a uma malandragem lusa bastante nova pra mim e engraçada. É claro que, se o gajo quiser, pode ir mais fundo na história e na leitura. Pra além da diversão, do desafio de linguagem, Quando o diabo reza, até pelo título, não deixa de trazer o outro lado da moeda da piada: um mundo triste, feito de individualidade (ou melhor, egoísmo mesmo), onde não há possibilidades de sonhos compartilhados. Todo mundo acompanhado e sempre sozinho. Seja em família, seja no casamento, seja na mesa de bar. Mas, ah, daí eu começo a me contradizer nas minhas intenções nesse texto aqui. E, pra falar disso a sério, tem que virar resenha, citar, comparar e o caramba. E eu só quero recomendar. Quando a Tinta da China chegar ao Brasil, eis um bom livro, Suposto.
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