“A Blowtex orienta seus consumidores a não utilizarem o preservativo, como medida de precaução". Mas, Suposto Leitor, vem cá, meu camarada: a medida de precaução do vivente não era, justamente, o preservativo? Que é isso, a meta-precaução? (releve o trocadilho).
Pois foi essa a notícia chocante do dia.
A Blowtex, muito educadamente, avisou a imprensa, que nos avisa, que há um pequenino lote, coisa de nada, de OITENTA MIL CAMISINHAS que devem sofrer recall por causa de um “problema (que) poderá afetar a resistência do produto”. Não bastasse essa informação preocupante, tem um detalhe que é o sobrenome do produto em questão: Blowtex TURBO. Não é a camisinha pro amigão que quer fazer amor-gostoso cheio de carinho e dengo. É a do campeão. Ele quer botar pra quebrar. É turbo, é nitro, é como se não houvesse amanhã. Mas há amanhã e depois, e a camisinha tá com problema de resistência (ao contrário do turbo-man) e nesse amanhã que vai raiar pode surgir um turbo-man-jr, meu chapa, quando não coisas bem mais complicadas e que ninguém planeja pra vida.
É como aqueles recalls da indústria automobilística. Olha, a gente se deu conta que o freio pode não funcionar. Ou que o motor pode explodir. Mas pega teu carro sem freio e com motor-bomba e vem aqui na oficina que a gente troca e ainda dá uma encerada. Ai, pelo menos eles avisam, se não avisam era pior, eu sei que o Suposto Leitor tá de braço cruzado, me reprovando e dizendo isso. Sim, claro, inequívoco, melhor avisar do que não avisar. Mas o melhor mesmo é perguntar: por que raios botar o produto na rua e DEPOIS testar? Sim, porque é só o que eu posso imaginar. Se tivesse testado antes, não precisava fazer o tal do recall, tô certo, seu Suposto?
Voltando ao Turbo pifado da Blowtex, fico pensando na validade desse recall. Vejamos: camisinha é um troço pra toda a população (ou deveria ser) e a gente sabe que nem todo brasileiro é chegado numa leitura de jornal. Então eu pergunto, será que todo mundo vai ficar sabendo dessa informação? E, mesmo que fique todo mundo sabendo, será que vai ser a tempo? Convenhamos, em geral, camisinha não é vinho que o cara ou a cara compra e deixa guardado pra amadurecer, pra trabalhar (ou pra aguardar um anúncio de recall). É pra trabalhar na hora. Ainda mais a Blowtex TURBO. É aquilo: o sujeito bota a cueca da sorte, tasca um Axe Duplo no sovaco, passa na farmácia, compra a Turbo, toma um Mad Dog e diz É HOJE. Não é assim?
Fora isso, ainda tem a questão climática da coisa. Não é uma anti-propaganda só da Blowtex Turbo. É de todo o conceito de Use Camisinha. Pô, já faz um tempão que os ministérios da saúde e as próprias marcas de preservativo vêm tentando com campanhas e sei-lá-mais-o-quê convencer a moçada (e principalmente a velharada, depois do Viagra) que a camisinha não é um anticlímax, não é chupar bala com papel, não é uma pausa inadmissível na hora do fogo irrefreável (que nem os carros de recall) da paixão, não é broxante. E, agora, imagine a cena. O casal consciente-apesar-do-tesão-louco arrancou roupas, quebrou abajour, correu, pulou, fez, aconteceu e ela manda aquela pergunta de propaganda (não sei por que, mas em propaganda é sempre ela quem pergunta):
- Tens proteção?
Ele dispara pralgum lugar onde sabe que tem, tem sim uma camisinha, o mais rápido que pode, pra esses 10 segundos não esfriarem a função, e volta com o pacotinho. Pronto, vambora. Mas, com essa novidade do recall, temos que esperar ainda mais uma etapinha:
- Hmm... Blowtex Turbo... sabe o lote? É do 16JUN-B?
Pois é. Mas como diria o comercial aquele de aparelho-pra-queimar-gordurinhas-sem-esforço, não é só isso, tem mais:
E quem já usou o lote 16JUN-B? O amigão de uns parágrafos acima? Além de descobrir que o sexo não foi tão selvagem ao ponto de arrebentar a camisinha, pode ter descoberto outra coisa: um herdeiro. Nesse caso, qual o recall, o que a Blowtex vai trocar ou ressarcir?
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