quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Por Causa de 1 Drama

Não sou um grande leitor de poesia. Ou melhor, nem um suposto leitor de poesia eu acho que sou. Mas às vezes me caem na mão algumas coisas que, acho, são capazes de tocar até os mais despoetizados.

Isso serve pra falar do Contém 1 drama, publicado pela Não Editora. É um livretinho que já te pega pelos olhos, coisa bonita, coisa delicada, coisa que dá vontade de ler.

Mas é mais do que isso.

Contém 1 drama, na verdade, contém bonitas fotos tiradas pela Carol Bensimon e, acima de tudo, 2 poemas do Diego Grando.

Os poemas do Diego Grando.

O Diego já tinha lançado pela Não o conjunto de poemas Desencantado carrossel. Um livro do qual eu gosto muito, por causa do lirismo, da singeleza, da cotidianeidade, da ironia que o Diego colocou pra girar dentro de um trabalho bem cuidado da forma. Gostei do carrossel do Diego.

Mas aí o sujeito foi passar um tempo em Paris, fazer doutorado e voltou há pouquinho. O passaporte dele são os 2 poemas 25 Rua do Templo e Palavra Paris.

Caramba.

O Diego cresceu.

E não só na extensão dos textos. Cresceu demais o poeta, que já era bom poeta.

Olha, diz que a literatura é feita de solidão. A solidão do escritor, na hora de compor os textos. A solidão do leitor, no momento da leitura. Mas poucas vezes eu tinha sentido tanta solidão em uma experiência literária como experimentei ao ler 25 Rua do Templo e Palavra Paris.

Se não chegam a ser canções, são, no mínimo, pequenos refrões do autoexílio que o Diego viveu nesses últimos anos junto com a Carol na França. Refrões que ficam repetindo na nossa cabeça a sensação de estar só, de ver o mundo de fora, distanciado das relações familiares, do que já foi rotina, dos rituais coletivos. Diego faz 2 poemas sujos pelo deslocamento, pelo não pertencimento a comemorações e alegrias, sujos com o humor triste de quem troca de ano como quem troca de calçada, como ele diz em 25 Rua do Templo.

Os dois poemas conseguem passar essa estranha sensação de quem foi atrás do sonho e percebeu, nas lembranças, nas memórias, que deixou realidades pra trás. São versos cheios de sorrisos tímidos e lágrimas contidas, porque o olhar de poeta do Diego faz leituras inusitadas do seu cotidiano parisiense, das dores e das alegrias de quem está vivendo a vida de estrangeiro, de quem para na rua deserta e sombria/companheira desta hora que não escolhi/rua deserta não muito distante/dos grandes bulevares abarrotados de alegria espumante/flashes ao vivo para o mundo todo/e meia dúzia de carteiras roubadas/rua deserta no coração da cidade/que um dia chamaram/talvez sem previsão de ironia/Cidade Luz.

E isso é só um tantinho dessa mistura de amargura e sorriso, de matemática com poesia (A palavra Paris tem cinco letras/e dois milhões duzentos e quinze mil habitantes, assim começa Palavra Paris), essa mistura de solidões e olhares que o Diego nos oferece neste volume de Contém 1 drama.

Há muito mais nesses versos.

Tem ritmo, tem imagens, tem inusitadas comparações e tem a beleza que fica, ao final da leitura de Palavra Paris, a beleza de quem viveu a solidão, viveu a distância, viveu o estrangeirismo e, mesmo assim, na hora de se despedir dos vinte e dois metros quadrados dessa palavra Paris que durou dois anos na sua vida, nessa hora, nos deixa perceber saudade e vontade de ficar. Um sentimento difuso que talvez seja de todos nós numa hora dessas. Mas que só um poetaço como o Diego consegue dizer.

Contém 1 drama contém grande poesia, contém pulsação, contém a minha recomendação para o Suposto Leitor.

E talvez não contenha uma lágrima ou duas de quem ler.

Um comentário:

Pena Cabreira disse...

Reginaldo, bacana o texto sobre os excelentes poemas do Diego. Legal que escreveste, a edição é digna de registro. Parabéns e um abraço.
Pena Cabreira.