segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Por Causa da FLIP 4

Pues, coisa louca, Suposto: a FLIP continua aqui. Tem mais dois textos que fiz pro site da revista Aplauso e que quero dividir contigo. São dois balanços do todo da festa e não vou ficar falando mais, porque os textos já dizem o que querem dizer. Aqui vai um e amanhã ponho o outro. E aí a Festa acaba aqui.
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O QUE FICA QUANDO A FLIP SE VAI?
Cabou-se a FLIP.

E acho que um dos papéis mais interessantes dela - e talvez menos falados - continua firme. Falo de uma imagem que vi, lá na quinta-feira, e que se repete ao longo do evento: uma molecada de Parati, pé no chão, bermuda suja da pelada no campinho, pendurada nos alambrados que dão acesso à Tenda dos Autores vendo aquele monte de gente entrar naquele circo que se monta há oito anos na cidade.

Dessa vez, olhei bem pra cara dessa gurizada, pros olhos arregalados, e pensei que essa turma talvez cresça com uma visão diferente da usual sobre o que é ser escritor. Em vez de pensar numa coisa solitária, em vez de ouvir que no Brasil escritor morre de fome, os paratianinhos talvez achem que escritor é superstar, é badalado, é coisa legal. Vem cá, ano a ano eles veem a cidade dobrar de populção, os pais ganharem uma grana a mais por causa dos escritores. Assim como eu, eles observam a geração espontânea de filas pra pegar autógrafos.

Sei que existe uma turma que critica as FLIPs, FLOPs, FLUPs pela espetacularização da literatura e do autor.

Mas vendo os guris de Parati tão curiosos por essa gente dos livros, começo a pensar que isso tem seu lado bom. Durante 5 dias, pra essa galerinha, escritores são tão famosos quanto o Kaká, quanto o último Big Brother, quanto a Ivete Sangalo, quanto o protagonista da novela das oito. Ei, as crianças de Parati talvez queiram agora ser jogador de futebol, modelo, astronauta, ator e, quem sabe, dois ou três, escritores. Por que não? Lembro que ano passado fui dar uma palestra pra uma turminha de um colégio público de Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre, e que a professora que me recebeu me falou que eu não tinha ideia da magia e da importância que tinha pra piazada eventos como aqueles, que isso sempre colocava um pouco mais o livro e o escritor na cabeça deles. Era uma feira do livro pequena, de bairro, agora imagina um troço como o que rola em Parati.

Isso somado com uma das partes mais bonitas da FLIP, que é a Flipinha, cara, é muito positivo. A Flipinha, pra quem não sabe, é uma baita programação infantil que rola no período da festa. Segundo me disseram, mais de 90% das escolas públicas de Parati participam das atividades. E ainda tem a decoração da Praça da Matriz, que além de reproduzir personagens literários em papel machê pra divertir a molecada, tem uma das minhas coisas preferidas na cidade: as árvores de livros. Muitas árvores com livros pendendo dos galhos. E a criançada vai lá, senta e lê mesmo. E, se não sabe ler, tem uma turma de instrutores que vem dar uma forcinha. Ah, e nesse ano ainda botaram uma bibliotequinha no meio da praça, aumentando a oferta de títulos pros pequenos. Torço pra que, nos doze meses que separam uma edição da FLIP da outra, esse trabalho de aproximação da criançada com livros tenha algum tipo de continuidade. Porque volto com uma impressão reafirmada: de que a cada edição podemos ter mais moleques sonhando ser Ronaldo. Mas Correia de Brito.

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