Pois decidi começar a falar aqui também dos livros que eu gosto. Digamos que eu esteja iniciando uma sessão, Recomendações Para Um Suposto Leitor. E por que isso?
Por causa de dias raros, como aqueles em que tu descobre na prateleira um livro comprado já há um tempo e não lido sabe-se lá por quê. Foi o que aconteceu com um volume de contos de título muito pertinente: Dias raros, de João Anzanello Carrascoza. 103 páginas que fazem jus ao título da capa, no mínimo, porque não é em qualquer dia que se abre um livro e, logo no primeiro conto, nas primeiras linhas, dá de frente com frases como (...)a manhã hesitava, uns cheiros de dia novo pairavam no ar(...); (...)coisa mínima para a maioria, ir de um aqui a um ali, costurar as margens do cá às do lá, mas para ele a raridade que raiava(...); ou (...)porque era uma hora enorme em sua vida. Frases dessas que criam minutos enormes na nossa vida de leitor, que já me bastariam, mas que faziam mais do que serem frases: compunham, junto com tantas outras, o conto Cidade-mundo que abre o livro do Carrascoza.
Cidade-mundo é um texto que, depois de ler pela primeira vez, reli, todo, em voz alta para a minha namorada. Não só pra mostrar a beleza da linguagem, mas também pela história de um menino que começa a se ver menino-homem no encontro com uma cidade-mundo. Coisa linda. Ainda mais porque para nos contar dessa cidade que um mundo para o menino, o autor faz de cada palavra um universo de significados para nós leitores.
Fosse isso e o livro já estava recomendado pra ti, Suposto Leitor. Mas tem mais. A começar pela unidade do livro, construída a partir do título e costurada pelo enredo das histórias. Adoro livros de contos com unidade, que buscam ser mais do que um pacote de biscoitos sortidos.
Dá pra dizer que o Carrascoza fez isso. Dá pra dizer que cada conto é um dia, um pedaço de um dia capaz de tornar uma data uma lembrança, um momento raro. Coisas que às vezes nem se vê no exato instante vivido – ou nunca, até. Mas que podem acontecer todos os dias. Como a história do menino de Cidade-mundo. Ou a de outro menino que vê outra realidadenuma viagem de caminhão com o pai. Também existe dias raros pelo poder que tinham de vir a ser. Como na visita surpresa do irmão à irmã ou nas entrelinhas do que não é dito entre mãe e filho, no conto Umbilical. Parece que Carrascoza vê e mostra, entre tantas coisas, que não é só o acertador da mega-sena quem vive um dia raro.
E faz isso bem demais, parecendo estar sempre na busca também da palavra, da frase rara, caprichando nos seus narradores. Há um exercício que aproxima Cortázar de um subúrbio paulista no já citado Umbilical. Também se percebe tintas da Clarice Lispector ou melodias que lembram gentes como o Lobo Antunes e outros grandes portugueses. Tudo em uma combinação inesperada, como tem que ser para fazer surgir o único. A combinação que compõe dias raros.
Se quiser te empresto, Suposto.
Ou clica na capa.
Por causa de dias raros, como aqueles em que tu descobre na prateleira um livro comprado já há um tempo e não lido sabe-se lá por quê. Foi o que aconteceu com um volume de contos de título muito pertinente: Dias raros, de João Anzanello Carrascoza. 103 páginas que fazem jus ao título da capa, no mínimo, porque não é em qualquer dia que se abre um livro e, logo no primeiro conto, nas primeiras linhas, dá de frente com frases como (...)a manhã hesitava, uns cheiros de dia novo pairavam no ar(...); (...)coisa mínima para a maioria, ir de um aqui a um ali, costurar as margens do cá às do lá, mas para ele a raridade que raiava(...); ou (...)porque era uma hora enorme em sua vida. Frases dessas que criam minutos enormes na nossa vida de leitor, que já me bastariam, mas que faziam mais do que serem frases: compunham, junto com tantas outras, o conto Cidade-mundo que abre o livro do Carrascoza.
Cidade-mundo é um texto que, depois de ler pela primeira vez, reli, todo, em voz alta para a minha namorada. Não só pra mostrar a beleza da linguagem, mas também pela história de um menino que começa a se ver menino-homem no encontro com uma cidade-mundo. Coisa linda. Ainda mais porque para nos contar dessa cidade que um mundo para o menino, o autor faz de cada palavra um universo de significados para nós leitores.
Fosse isso e o livro já estava recomendado pra ti, Suposto Leitor. Mas tem mais. A começar pela unidade do livro, construída a partir do título e costurada pelo enredo das histórias. Adoro livros de contos com unidade, que buscam ser mais do que um pacote de biscoitos sortidos.
Dá pra dizer que o Carrascoza fez isso. Dá pra dizer que cada conto é um dia, um pedaço de um dia capaz de tornar uma data uma lembrança, um momento raro. Coisas que às vezes nem se vê no exato instante vivido – ou nunca, até. Mas que podem acontecer todos os dias. Como a história do menino de Cidade-mundo. Ou a de outro menino que vê outra realidadenuma viagem de caminhão com o pai. Também existe dias raros pelo poder que tinham de vir a ser. Como na visita surpresa do irmão à irmã ou nas entrelinhas do que não é dito entre mãe e filho, no conto Umbilical. Parece que Carrascoza vê e mostra, entre tantas coisas, que não é só o acertador da mega-sena quem vive um dia raro.
E faz isso bem demais, parecendo estar sempre na busca também da palavra, da frase rara, caprichando nos seus narradores. Há um exercício que aproxima Cortázar de um subúrbio paulista no já citado Umbilical. Também se percebe tintas da Clarice Lispector ou melodias que lembram gentes como o Lobo Antunes e outros grandes portugueses. Tudo em uma combinação inesperada, como tem que ser para fazer surgir o único. A combinação que compõe dias raros.
Se quiser te empresto, Suposto.
Ou clica na capa.
Livro: Dias raros
Autor: João Anzanello Carrascoza
Editora: Planeta
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