Quem já ouviu dizer que livro não vende no Brasil põe o dedo aqui (e depois limpa o monitor, que dedo na tela marca). Mas essa não é uma verdade consagrada mesmo? Pois essa verdade consagrada me botou em confusão na segunda-feira.
Acontece que era o dia em que começava a venda de ingressos pra FLIP. Mais do que isso, e aí vem a confusão, era o dia em que começava e também acabava a venda de ingressos. Talvez o Suposto Leitor, morrendo de saudade porque andei sumido, já esteja com uma pergunta: o quê? A FLIP decidiu vender os ingressos durante apenas um dia?
Não, Suposto, mas se a organização tivesse tomado essa mediada, provavelmente não perderia dinheiro. Porque os ingressos praticamente acabaram na segunda. E eu quase fico sem ingressos.
É aí que eu não entendo aquela verdade consagrada ali de cima: que no Brasil livro não vende.
Suposto, acompanha aqui meu raciocínio:
Se o site do Ingresso Rápido (será que é pela velocidade com que os tickets desaparecem?) ficou inavegável das 10 às 12h;
Se o telefone do Ingresso Rápido (com certeza não é pela velocidade no atendimento), ficou ocupado das 10 às 12h15 (quando eu fui atendido);
Se o sistema da FNAC – que era ponto de venda – deu pau no Brasil todo;
Se na FNAC de Curitiba tinha fila de 200 pessoas esperando o sistema voltar;
Se na FNAC Morumbi tinha outras 300.
E se, quando, às 12h30, mais ou menos, quando consegui comprar ingressos na FNAC, os bilhetes pra Tenda dos Autores das mesas do Lobo Antunes, do Chico Buarque e do Gay Talese já tinha se esgotado;
Pois se tudo isso, como é que livro não vende no Brasil, Suposto?
E mais números (apesar de estar falando sobre letras, estou matemático hoje): TODOS, assim, em caps lock, TODOS os ingressos do Lobo Antunes, os mais de 800 da Tenda dos Autores e os mil e poucos da Tenda do Telão, pois TODOS os ingressos do Lobo Antunes estavam vendidos até às 13h30 (quando venci a fila de 70 ligações da espera no telefone da Ingresso Bem Rápido, hein?). Ou seja, em três horas e meia, mais de 2000 ingressos pra ver o português, mesmo que por telão, tinham sido comercializados. Assim como os da mesa do Chico + Hatoum, do Gay Talese e de algumas outras mesas.
Tchê, em três horas e pouco, acho que quase 10 mil ingressos pra ver escritores tinham ido pro saco.
E às 14h30, quando resolvi, por curiosidade mórbida, ver como andavam as possibilidades de compras no site da Ingresso Rápido Que Tá Acabando, descobri que praticamente TODAS as mesas não tinha mais entradas pra Tenda dos Autores. E muitas também já tinham também o “esgotado” piscando pra Tenda do Telão. Suposto, acompanha meus números: se são 19 mesas, e são, isso quer dizer que, em quatro horas e meia, uns 15 ou 20 mil ingressos foram vendidos.
O Radiohead precisou de mais de um mês pra vender isso no Rio de Janeiro.
O Oasis não teve esse público em Porto Alegre.
O R.E.M acho que ficou foi por aí.
Dá pra entender por que é que eu me atrapalhei com aquela consagrada frase de que livro não vende no Brasil? Pô, livro não vende, mas escritor vende bem pra caramba. Que paradoxo, né? Porque a gente não tá falando aqui só de pop stars como o Chico, que talvez arraste público, porque escreve bem, mas também, porque canta bem, porque compõe bem ou porque continua muito bem por causa dos olhos azuis.
Não.
Tem escritores jovens ou escritores que eu não conhecia até aparecerem na programação da FLIP deste ano. Aliás, fui comprar o livro de alguns autores e tive que encomendar porque não tinha em estoque. E não é porque já tinham vendido tudo. É porque ninguém compra os livros dos sujeitos.
Que coisa, né?
O ingresso não dá pra comprar porque vendeu tudo.
O livro não dá pra comprar porque não vendeu nada.
Pior é que não dá nem pro Suposto Leitor me dizer Ah, mas pensa bem, pelo menos todos esses autores devem ter dois mil livros vendidos, se duas mil pessoas querer vê-los. Na-na-ni-na-não, Suposto. Eu que não leio muito, mas não leio pouco já estive em outras edições da FLIP vendo escritores de quem já tinha ouvido falar, mas não tinha lido, ou que haviam despertado minha curiosidade por causa da programação.
E aí cria-se um impasse na vida do escritor. Se o livro não vende, mas ele, o autor vende ingresso, então o negócio pra ganhar a vida como escritor é estar na FLIP, na FLIPORTO, no Festival da Mantiqueira, na Bienal e, peraí, mas aí o sujeito escreve quando? Porque escritor escreve. E eventualmente – às vezes nem eventualmente se for o Veríssimo ou o Rubem Fonseca -, mas eventualmente fala, não? Então o que faz o escritor se pra ganhar a vida ele tem que aparecer em público?
Escreve durante as palestras?
Faz um Big Writer: 16 autores, vigiados dia e noite por câmeras? Será? Em vez de um programa onde todo mundo fala bobagem, um onde todo mundo fica quieto e, talvez escrevendo bobagem?
Ou aumenta o preço dos ingressos e inclui um livro de brinde?
Ou exige que, em vez de, por exemplo identidade, o sujeito apresente uma ficha de leitura de um livro no ato da compra do ingresso?
Ou dá o golpe do baú?
Acontece que era o dia em que começava a venda de ingressos pra FLIP. Mais do que isso, e aí vem a confusão, era o dia em que começava e também acabava a venda de ingressos. Talvez o Suposto Leitor, morrendo de saudade porque andei sumido, já esteja com uma pergunta: o quê? A FLIP decidiu vender os ingressos durante apenas um dia?
Não, Suposto, mas se a organização tivesse tomado essa mediada, provavelmente não perderia dinheiro. Porque os ingressos praticamente acabaram na segunda. E eu quase fico sem ingressos.
É aí que eu não entendo aquela verdade consagrada ali de cima: que no Brasil livro não vende.
Suposto, acompanha aqui meu raciocínio:
Se o site do Ingresso Rápido (será que é pela velocidade com que os tickets desaparecem?) ficou inavegável das 10 às 12h;
Se o telefone do Ingresso Rápido (com certeza não é pela velocidade no atendimento), ficou ocupado das 10 às 12h15 (quando eu fui atendido);
Se o sistema da FNAC – que era ponto de venda – deu pau no Brasil todo;
Se na FNAC de Curitiba tinha fila de 200 pessoas esperando o sistema voltar;
Se na FNAC Morumbi tinha outras 300.
E se, quando, às 12h30, mais ou menos, quando consegui comprar ingressos na FNAC, os bilhetes pra Tenda dos Autores das mesas do Lobo Antunes, do Chico Buarque e do Gay Talese já tinha se esgotado;
Pois se tudo isso, como é que livro não vende no Brasil, Suposto?
E mais números (apesar de estar falando sobre letras, estou matemático hoje): TODOS, assim, em caps lock, TODOS os ingressos do Lobo Antunes, os mais de 800 da Tenda dos Autores e os mil e poucos da Tenda do Telão, pois TODOS os ingressos do Lobo Antunes estavam vendidos até às 13h30 (quando venci a fila de 70 ligações da espera no telefone da Ingresso Bem Rápido, hein?). Ou seja, em três horas e meia, mais de 2000 ingressos pra ver o português, mesmo que por telão, tinham sido comercializados. Assim como os da mesa do Chico + Hatoum, do Gay Talese e de algumas outras mesas.
Tchê, em três horas e pouco, acho que quase 10 mil ingressos pra ver escritores tinham ido pro saco.
E às 14h30, quando resolvi, por curiosidade mórbida, ver como andavam as possibilidades de compras no site da Ingresso Rápido Que Tá Acabando, descobri que praticamente TODAS as mesas não tinha mais entradas pra Tenda dos Autores. E muitas também já tinham também o “esgotado” piscando pra Tenda do Telão. Suposto, acompanha meus números: se são 19 mesas, e são, isso quer dizer que, em quatro horas e meia, uns 15 ou 20 mil ingressos foram vendidos.
O Radiohead precisou de mais de um mês pra vender isso no Rio de Janeiro.
O Oasis não teve esse público em Porto Alegre.
O R.E.M acho que ficou foi por aí.
Dá pra entender por que é que eu me atrapalhei com aquela consagrada frase de que livro não vende no Brasil? Pô, livro não vende, mas escritor vende bem pra caramba. Que paradoxo, né? Porque a gente não tá falando aqui só de pop stars como o Chico, que talvez arraste público, porque escreve bem, mas também, porque canta bem, porque compõe bem ou porque continua muito bem por causa dos olhos azuis.
Não.
Tem escritores jovens ou escritores que eu não conhecia até aparecerem na programação da FLIP deste ano. Aliás, fui comprar o livro de alguns autores e tive que encomendar porque não tinha em estoque. E não é porque já tinham vendido tudo. É porque ninguém compra os livros dos sujeitos.
Que coisa, né?
O ingresso não dá pra comprar porque vendeu tudo.
O livro não dá pra comprar porque não vendeu nada.
Pior é que não dá nem pro Suposto Leitor me dizer Ah, mas pensa bem, pelo menos todos esses autores devem ter dois mil livros vendidos, se duas mil pessoas querer vê-los. Na-na-ni-na-não, Suposto. Eu que não leio muito, mas não leio pouco já estive em outras edições da FLIP vendo escritores de quem já tinha ouvido falar, mas não tinha lido, ou que haviam despertado minha curiosidade por causa da programação.
E aí cria-se um impasse na vida do escritor. Se o livro não vende, mas ele, o autor vende ingresso, então o negócio pra ganhar a vida como escritor é estar na FLIP, na FLIPORTO, no Festival da Mantiqueira, na Bienal e, peraí, mas aí o sujeito escreve quando? Porque escritor escreve. E eventualmente – às vezes nem eventualmente se for o Veríssimo ou o Rubem Fonseca -, mas eventualmente fala, não? Então o que faz o escritor se pra ganhar a vida ele tem que aparecer em público?
Escreve durante as palestras?
Faz um Big Writer: 16 autores, vigiados dia e noite por câmeras? Será? Em vez de um programa onde todo mundo fala bobagem, um onde todo mundo fica quieto e, talvez escrevendo bobagem?
Ou aumenta o preço dos ingressos e inclui um livro de brinde?
Ou exige que, em vez de, por exemplo identidade, o sujeito apresente uma ficha de leitura de um livro no ato da compra do ingresso?
Ou dá o golpe do baú?
Acho que, se o Suposto Leitor fosse um suposto escritor que falar na FLIP, eu diria assim: capricha na palestra pra ver se vende mais uns livros por lá e não me gasta o cachê em bobagem, que senão não vai dar pra ser escritor.
4 comentários:
Como as bandas, que ganham dinheiro com show e não com a venda de música. E nem a web salva. A FLIP é o show dos escritores. Quanto ao tempo para escrever, bem, cada um se vira como pode. Não é à toa que o Saramago mora numa ilha.
Também não lemos muito nem pouco.
Se quiser conhecer, será bem-vindo:
www.ogrifoemeu.wordpress.com
Ótimo, Reginaldo, mas preciso fazer um comentário: a histeria-Buarque-de-Holanda colaborou muito para a venda de ingressos. Eu já tinha cantado a pedra (no email que colo abaixo), e a teoria foi comprovada pelas conversas que ouvi na fila de flipeiros, na ModernSound de Copacabana. Quando a funcionária informou que haviam acabado os ingressos para o Chico, escutei coisas tipo: " A diz para B: - Não acredito. E agora? Já pagamos a pousada" "B responde: Compra todos os que tiverem. Escontramos ele na rua". Afe!!!!! Além desse tipinho de comentário, mais uma coisa que prova minha teoria. Ano passado acabou em 2 dias, não em 1. A única coisa que acabou no 1º dia de vendas foi o show de abertura. A única. Anyway, segue minha resposta ao anúncio de confirmação dos olhos verdes na Flip.
"data14 de abril de 2009 10:26
assunto Re: cachecol, sunga e papete...
enviado porgmail.com
eu ainda gosto um pouco do chico (porque, sim, acho que ele tem BOA BOA BOA parcela de culpa na histeria-coletiva-buarque-de-holanda; porém, não, não consigo deixar de escutar as músicas dele) mas, sinceramente, não gostei da notícia
aposto que uma multidão vai só para ver ele
multidão que não sabe nada de literatura (e que devem achar a pseudo-literatura-buarque-de-holanda o máximo - desculpa aí se alguém gosta, mas CENSURADO) e que vai estar lá só deixando as ruas mais histéricas, as picaretas mais afetadas, as praias mais cachecol menos sunga
não to com muita paciência nem para histeria coletiva, nem para gente afetada (o que sempre há na flip, mesmo sem chico buarque, fico imaginando com chico buarque), nem para combinação cachecol/papete
vou sair, no mais puro bugra-way-of-life, dando livrada na cabeça de todo mundo que se enquadrar em multidão-histérica-buarque-de-holanda (usarei meu aurelião de antes da reforma, que não é parente-buarque-de-holanda, mas é pesado-o-bastante-buarque-de-holanda)
saudades matinalmente mal-humoradas
leilouca"
Pois é amigos. Adoro ler e não compro um livro há pelo menos um trimestre!
Mas eu compro regularmente e vejo as livrarias e sebos sempre cheias .
Agora fixada (inconformada por ainda não ter lido) em Lobo Antunes ando cavocando informações na rede (onde e quanto). Busca necessária já que soldo de professora é irrisório.
Achei esta situação no mínimo cômica.
Adoro Chico,sua música, pensamentos e os belos olhos azuis.
Mas entre a oportunidade ( financeira)de vê-lo e ouvi-lo pessoalmente, e a de comprar livros escritos por ele,ficaria com a última.
Apesar de Parati ser tão linda...e de tal tribo deslumbrada, a circular, ser uma atração à parte . Beijoca
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