Pois tava há um tempão pra escrever isso. Antes até da escritura do texto sobre as eleições. Mas vai ver eu não tinha digerido bem a informação. Conto pra ti, Suposto:
Há coisa de mês, mês e pouco, andei por Recife, a trabalho. E no único dia que deu pra pegar uma prainha, presenciei uma das maiores afrontas do homem à natureza. Verdadeira batalha psicológica entre ser humano e animal.
Seguinte: fui tomar banho de mar na praia da Boa Viagem. 30 graus, eu louco por uns mergulhos. Mas não tem como. É água na cintura, e olhe lá. Se passar muito disso, perigo: o tubarão pode pegar. Em Boa Viagem tem aquele fenômeno de ataques de tubarão, que a gente do sul só via no Jornal Hoje e no Fantástico. Fenômeno que não tem nada de fenômeno. É reação mesmo. Os bichos só tão buscando alimento ali, porque uns anos atrás, alguns seres humanos aterraram a área mais ao sul onde eles se procriavam e se alimentavam. Diz que nem gostam muito da nossa carne, mas que, na falta de um peixinho, ou camarãozinho melhor, se bobear, mandam uma coxinha de gente. Mas não é essa a batalha psicológica a que me refiro não.
A batalha eu percebi quando, nada muito divertido no mar, voltei pra areia e reparei que, mesmo sem jacaré e com tubarão. a turma lota a praia. Muita gente que vai se espremendo à medida que a maré sobre. E ficam curtindo um mezzo feira livre, mezzo quermesse. Assim, ó, as frases mais ouvidas na beira da praia de Boa Viagem foram:
— Ó, o espetinho de camarão.
— Caldinho de feijão! De camarão! De pimenta!
— Olha a caldeirada!
— Peixe, peixe frito! — e um peixe de uns três palmos de comprimento.
— Óia a ostra, ostra!
E, claro:
— Quero!
— Me vê dois?
— Traz mais um?
Um cardápio muito variado pra quem cresceu a milho verde e picolé em Capão da Canoa. E uma turma ávida por um piquenique ou kerb na beira da praia. E eu me espantando com tudo isso. Até que olhei pro mar e imaginei a tubarãozada, toda de tocaia, espreiatando por trás dos recifes. Então espichei o olho ao meu redor e vi aquela gente toda se refestelando no buffet ao ar livre. E saquei. É pura provocação. Recifences e turistas tão dizendo pra turma da barbatana Ah, tão mordidinho, é? Perderam o camarãozinho e vieram me almoçar? Pois morram de fome, que, ó, ó, eu tenho camarãozinho e não te do-ou! Tenho sururu e é só me-eu. É o chamado troco, como diria o Galvão Bueno.
E eu digo que é o chamado desequilíbrio ecológico. E também psicológico, né? Maldade. Ora onde já se viu provocar tubarão. Inda mais quando os danados não têm culpa. Ainda mais², quando o povo não percebe, comendo sentado a tarde inteira, que a batalha pode deixar de ser entre homem e tubarão e virar baleia versus tubarão.
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
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3 comentários:
Recife eh sem dúvida a cidade que melhor representa o Brasil. Tem tubarão, calorzão, vida cultural intensa, praia e cheiro ruim, não tem periferia. Lá realmente tá todo mundo junto, miséria e riqueza lado a lado, a brasilia Teimosa x a Boa Viagem, Olinda x o Coque!
Pior que deu uma saudade!;-))
Moço, obrigada mais uma vez pela entrevista para a Muito...
baihn...
tu prefere o milho com manteiga e sal, as polar e as mãe-d´água de Mariluz, então?
que coisa!
e aqui não tem torcida do Náutico, pelo menos não nos últimos três anos...
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